Um tratamento para autismo desenvolvido por pais nos EUA é apontado como tendo resultados surpreendentes e começa agora a ser aplicado em Portugal, mas um especialista na área alerta para o risco de acreditar facilmente em curas milagrosas.
O programa Son-Rise é tido como uma abordagem totalmente nova e dinâmica, centrada na criança e encorajando-a a conduzir os pais ao interior de si, explicou à agência Lusa Susana Silva, presidente da Associação Vencer Autismo (AVA), a única organização portuguesa que começa a utilizar o programa.
A AVA conta com cinco elementos que receberam formação nos EUA, onde o programa já é aplicado há várias décadas, para ensinar outros pais e voluntários a trabalhar com crianças com espectro de autismo.
“Os resultados foram automaticamente surpreendentes”, afirma Susana Silva, que conta o caso da sua própria filha, uma criança autista actualmente com 11 anos.
A menina tinha dificuldade na interacção social e “começou logo a ter uma “evolução brutal”.
Não percebia a lógica da conversação telefónica e não conseguia dizer mais do que sim e não, não tinha amigos na escola e não fixava as pessoas. Hoje mantém conversas contextualizadas ao telefone, já tem amigos e olha as pessoas nos olhos, diz.
A presidente da AVA reconhece que não há qualquer prova científica que valide este programa, até porque é desenvolvido dentro de casa, por pais e voluntários.
O treino é intensivo, duas horas diárias, em que os maneirismos (movimentos repetitivos) da criança são imitados pelo adulto, que desta forma mostra interesse e tenta entrar através dessa porta para o interior da criança, explica Susana Silva.
No entanto, o neuro-pediatra Nuno Lobo Antunes, presidente do CADIN (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil) que há anos trabalha com crianças com autismo e outras perturbações do desenvolvimento, mostra-se um pouco céptico e alerta para a facilidade com que o desespero dos pais os pode levar a acreditar quase “religiosamente” em curas milagrosas que não existem.
“Deixa-me perplexo e um pouco angustiado a ideia de que pessoas possam tomar como curas milagrosas o que assim não é”, diz o médico, acrescentando que “do ponto de vista científico não há evidência de que um método é melhor do que outro, há, sim, propaganda de métodos que na prática não se comprovam”.
Salientando que o autismo é uma perturbação que muitas vezes evolui de forma quase espontânea, o especialista admite que muitas vezes perante exemplos de sucesso os médicos ficam com a dúvida sobre como correria se fosse usado o método A em vez do método B.
Certo é que a intervenção precoce, dirigida, com estimulação é benéfica e tem melhores resultados do que deixar a criança entregue à sua evolução natural, por isso considera que este método (Son-Rise) não é muito diferente de outros.
Na opinião de Nuno Lobo Antunes, “não faz sentido” o uso de um modelo que serve a todos, mas dependendo do perfil de cada criança e da profundidade da sua doença, usar vários métodos, retirando o melhor de cada um, adaptando-o a cada criança e às suas características especificas.
O neuro-pediatra sublinha que nem se pode falar em taxas de sucesso porque os casos são variáveis e muitas vezes evoluem de forma positiva (a incidência de dois por cento em rapazes na infância não se verifica na fase adulta), atingindo o sucesso social e profissional.