Saiba Como Fármacos de Cessação Tabágica Alteram Reações do Cérebro

TabágicaOs fármacos de cessação tabágica têm sido uma ferramenta vital na luta contra o tabagismo, ajudando milhões de pessoas a abandonar o vício do cigarro. Mas como exatamente esses medicamentos funcionam? Recentes estudos científicos têm lançado luz sobre os mecanismos cerebrais envolvidos, mostrando como esses fármacos alteram as reações do cérebro para facilitar a cessação do tabagismo.

O Papel dos Fármacos na Cessação Tabágica

Os medicamentos usados para ajudar as pessoas a parar de fumar, como a vareniclina e o bupropiom, atuam em diferentes partes do cérebro para reduzir os desejos e os sintomas de abstinência. Esses fármacos são projetados para interferir na forma como a nicotina afeta o cérebro, tornando mais fácil para os fumadores abandonarem o vício.

Mecanismos de Ação no Cérebro

Vareniclina: Este medicamento funciona como um agonista parcial nos receptores nicotínicos de acetilcolina no cérebro. Isso significa que a vareniclina ativa esses receptores, mas de uma maneira mais fraca do que a nicotina. Ao fazer isso, ela reduz os desejos de fumar e os sintomas de abstinência, ao mesmo tempo que bloqueia os efeitos de reforço da nicotina caso a pessoa recaia e fume um cigarro. Em essência, a vareniclina engana o cérebro, fazendo-o acreditar que já recebeu nicotina suficiente.

Bupropiom: Originalmente desenvolvido como um antidepressivo, o bupropiom também é eficaz na cessação tabágica. Ele atua bloqueando a recaptação de dopamina e norepinefrina, neurotransmissores que desempenham um papel crucial no sistema de recompensa do cérebro. Ao aumentar os níveis desses neurotransmissores, o bupropiom ajuda a reduzir os desejos e os sintomas de abstinência associados à cessação do tabagismo. Além disso, o bupropiom tem efeitos antagonistas nos receptores nicotínicos, o que ajuda a diminuir a satisfação que um fumador obtém ao fumar um cigarro.

Alterações nas Reações do Cérebro

Quando uma pessoa fuma, a nicotina é rapidamente absorvida pelos pulmões e transportada para o cérebro, onde se liga aos receptores nicotínicos de acetilcolina. Isso libera dopamina, criando uma sensação de prazer e reforçando o comportamento de fumar. Com o tempo, o cérebro de um fumador crónico se adapta a esses altos níveis de nicotina, necessitando de quantidades cada vez maiores para obter o mesmo efeito de prazer.

Os fármacos de cessação tabágica alteram essas reações do cérebro de várias maneiras:

  1. Redução dos Desejos: Ao ativar parcialmente os receptores nicotínicos, a vareniclina reduz os desejos de fumar, enquanto o bupropiom aumenta os níveis de dopamina e norepinefrina para reduzir os sintomas de abstinência.
  2. Bloqueio dos Efeitos da Nicotina: Ambos os fármacos ajudam a bloquear os efeitos reforçadores da nicotina, tornando menos provável que um fumador recaia e obtenha prazer ao fumar.
  3. Estabilização do Humor: O bupropiom, devido às suas propriedades antidepressivas, ajuda a estabilizar o humor durante a fase de cessação, combatendo a irritabilidade e a depressão que muitos fumadores experimentam ao parar de fumar.

Estudos e Eficácia

Vários estudos clínicos têm demonstrado a eficácia desses medicamentos na cessação tabágica. Por exemplo, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) mostrou que a vareniclina é significativamente mais eficaz do que outros tratamentos, como a terapia de reposição de nicotina. Outro estudo destacou que o bupropiom, sozinho ou em combinação com outras terapias, aumenta as taxas de cessação do tabagismo em comparação com o placebo.

Maria Silva, que conseguiu parar de fumar após 20 anos de vício, partilhou a sua experiência: “Comecei a usar vareniclina e, pela primeira vez, senti que conseguia controlar os meus desejos. Foi um alívio enorme não sentir a necessidade constante de fumar.”