Um estudo recente revela que mais de 63% dos portugueses morrem em hospitais, uma estatística que levanta importantes questões sobre o sistema de saúde, os cuidados paliativos e as preferências dos pacientes no fim da vida. O relatório, baseado em dados do Ministério da Saúde, oferece uma visão detalhada sobre onde e como os portugueses passam seus últimos dias.
Contexto e Análise dos Dados
O estudo analisou dados de mortes ocorridas entre 2018 e 2020, mostrando que a maioria dos óbitos acontece em hospitais. Este número é significativamente superior ao de outros países europeus, onde uma maior proporção de mortes ocorre em casa ou em instituições de cuidados paliativos.
A Dra. Maria Antunes, especialista em cuidados paliativos, comenta: “Embora os hospitais forneçam cuidados essenciais, muitos pacientes preferem passar seus últimos dias em casa, cercados por familiares. Precisamos questionar se estamos oferecendo as opções adequadas e se os cuidados domiciliares estão suficientemente desenvolvidos.”
Razões para as Altas Taxas de Óbitos em Hospitais
Vários fatores contribuem para a alta taxa de óbitos em hospitais. Entre eles, destacam-se:
- Falta de Cuidados Paliativos: A rede de cuidados paliativos em Portugal ainda é insuficiente para atender à demanda, forçando muitos pacientes a permanecerem nos hospitais.
- Cultura Médica: Existe uma tendência cultural e médica de hospitalizar pacientes graves, mesmo quando os cuidados paliativos poderiam ser mais apropriados.
- Recursos Limitados: Muitas famílias não têm recursos ou apoio necessários para cuidar de pacientes terminais em casa.
- Preferências dos Pacientes: Alguns pacientes e suas famílias podem preferir o ambiente hospitalar por acreditarem que é mais seguro ou porque confiam mais na presença constante de profissionais de saúde.
Impacto nos Pacientes e Famílias
A morte em um ambiente hospitalar pode ter diferentes impactos sobre os pacientes e suas famílias. Embora os hospitais possam fornecer cuidados intensivos, a falta de um ambiente familiar pode tornar os últimos dias de vida mais impessoais e menos confortáveis.
Ana Rodrigues, cuja mãe faleceu recentemente em um hospital, compartilhou sua experiência: “Minha mãe sempre dizia que queria morrer em casa, mas não conseguimos proporcionar isso para ela. No hospital, sentíamos falta da intimidade e do conforto que poderíamos ter oferecido em casa.”
Necessidade de Melhorar os Cuidados Paliativos
A necessidade de melhorar os cuidados paliativos em Portugal é clara. Os cuidados paliativos visam proporcionar alívio da dor e outros sintomas, além de oferecer suporte emocional e espiritual, garantindo uma melhor qualidade de vida para os pacientes terminais e suas famílias.
O Dr. João Martins, especialista em cuidados paliativos, destaca: “É essencial expandir e melhorar os serviços de cuidados paliativos para que mais pacientes possam ter a opção de morrer em casa, se assim desejarem. Isso inclui não apenas mais unidades de cuidados paliativos, mas também maior apoio e formação para os profissionais de saúde e para as famílias.”
Iniciativas e Recomendações
Para abordar essa questão, várias iniciativas e recomendações estão sendo propostas:
- Expansão das Unidades de Cuidados Paliativos: Aumentar o número de unidades especializadas em cuidados paliativos para atender à crescente demanda.
- Formação de Profissionais de Saúde: Oferecer programas de formação contínua para médicos, enfermeiros e cuidadores sobre cuidados paliativos e manejo de sintomas no fim da vida.
- Apoio às Famílias: Desenvolver programas de apoio para familiares que cuidam de pacientes terminais em casa, incluindo visitas domiciliares de profissionais de saúde e suporte psicológico.
- Sensibilização Pública: Promover campanhas de sensibilização para informar a população sobre os benefícios dos cuidados paliativos e as opções disponíveis para o fim da vida.
Reações e Perspectivas
A revelação de que 63% dos portugueses morrem em hospitais gerou diversas reações entre profissionais de saúde, pacientes e organizações de apoio. Muitos defendem que é necessário um esforço conjunto para garantir que os pacientes tenham acesso a cuidados de qualidade onde quer que escolham passar seus últimos dias.
Dra. Maria Antunes conclui: “Precisamos de uma abordagem holística que coloque o paciente no centro dos cuidados. Isso significa respeitar suas preferências e garantir que tenham acesso a todas as opções disponíveis, seja em casa, em hospitais ou em unidades de cuidados paliativos.”
A discussão sobre onde e como os portugueses morrem está apenas começando, mas já é evidente que há uma necessidade urgente de mudanças no sistema de saúde para melhor atender às necessidades dos pacientes terminais e suas famílias.