As prostitutas de rua inquiridas num estudo apresentaram maior prevalência de infecção por VIH/Sida do que as que trabalham em casa, hotéis e clubes, e apresentam também maiores níveis de hepatite C, foi revelado esta segunda-feira, avança a agência Lusa.
Estes dados fazem parte das conclusões do Programa PREVIH sobre a incidência da Infecção por VIH/SIDA em grupos de difícil acesso, esta segunda-feira divulgado na II Conferência sobre a infecção VIH em grupos de difícil acesso.
Iniciado em 2010, este é o primeiro estudo com mais de mil pessoas de cada grupo de difícil acesso: homens que têm relações sexuais com homens e trabalhadores do sexo (TS).
A primeira fase do estudo com TS decorreu em 2009 e envolveu uma amostra de 1.040 trabalhadores, dos quais 853 eram mulheres.
A segunda fase do projecto (2012-2013) tem até agora um total de 707 participantes, dos quais 683 são mulheres.
As duas amostras são semelhantes em relação à idade: a maioria tinha idades entre os 26 e os 45 anos e mais de metade era portuguesa.
No primeiro estudo, a maioria disse ter o nível básico, seguindo-se o nível superior e secundário. No segundo, a maioria tinham o nível secundário ou superior.
A grande maioria reportou não estar a trabalhar e cerca de 62% referiu ter um rendimento inferior a mil euros.
“Estas duas amostras são diferentes fundamentalmente em relação ao local do trabalho sexual”, disse a investigadora Ana Gama.
Na primeira amostra, a maioria das participantes fazia trabalho sexual em contexto de rua, e na segunda amostra havia uma maior proporção de mulheres que trabalham em hotéis, clubes, etc.
No primeiro estudo, 6,6 por cento das participantes tinham reportado ser seropositivas, no segundo foi de 4,1%.
No primeiro estudo, das 176 participantes que realizaram o teste rápido do VIH, 8% tiveram um resultado reactivo, e das 485 participantes do segundo estudo, 1% teve um resultado reactivo.
Esta diferença de resultado é explicada pela diferença de procedimentos nos dois estudos.
Nos dois estudos, “a prevalência de testes reactivos é sempre superior nas trabalhadoras que fazem o trabalho sexual em contexto de rua”.
Já 8,2% no primeiro estudo disseram ter uma infecção sexualmente transmissível (IST) e 5,3% no segundo. Menos de 1% apresentavam infecção por tuberculose e 2% hepatite B.
“A hepatite C é muito superior no primeiro grupo em relação ao segundo”, disse Ana Gama, adiantando que esta infecção está associada ao consumo de drogas e às práticas de risco associadas, como partilha de seringas.
A grande maioria das inquiridas nos dois estudos disse ter utilizado preservativo com o último cliente e recebido preservativo no último ano.
Em declarações à Lusa, a coordenadora do estudo, disse que o projecto deu a perceber que “há uma situação epidemiológica que é preciso tomar conta e resolver”.
“Os dados mostram-nos que temos uma questão de maior vulnerabilidade nalguns grupos na área de infecção por VIH/sida e que é preciso adoptar algumas medidas de resposta a esta situação problemática”, disse Sónia Dias.
Sónia Dias adiantou que tem havido “uma grande evolução no trabalho com estas comunidades e nas repostas que têm vindo a ser dadas a estes grupos, mas ainda há algum trabalho a fazer porque a situação epidemiológica é preocupante, à semelhança daquilo que também tem vindo a ser reportado no contexto internacional”.
Os dados apontam para a necessidade de, para além do teste de VIH, se oferecer o rastreio e aumentar o conhecimento sobre IST e hepatites víricas.