Cinco investigadores portugueses recebem bolsas 10 milhões de euros

Cristina Pereira Silva (Instituto de Tecnologia Química e Biológica, ITQB), Luís Moita (Instituto Gulbenkian de Ciência), Bruno Silva-Santos, Henrique Veiga- Fernandes e João T. Barata (os três do Instituto de Medicina Molecular, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) foram agora premiados com bolsas Consolidator (Consolidator Grant) do Conselho Europeu de Investigação (European Research Council, ERC). Cada um destes investigadores irá receber um financiamento de cerca de dois milhões de euros, por cinco anos, para desenvolverem os seus projectos de investigação em diferentes áreas de ciências da vida.

Cristina Silva Pereira, Investigadora Principal do ITQB, na área da microbiologia, pretende desenvolver novas estratégicas antifúngicas de prevenção e tratamento. Esta visão do projecto foi inspirada pelas extraordinárias propriedades antimicrobianas da barreira de poliésteres da parede celular das plantas. “Os fungos como agentes patogénicos têm sido largamente ignorados mas as infecções fúngicas (invasivas) são um problema de saúde pública global que provoca tantas mortes por ano como a malária ou a tuberculose”, explica Cristina Silva Pereira. Os poliésteres das plantas desempenham uma função semelhante à epiderme e são por isso excelentes candidatos para a protecção de feridas. O grupo de Cristina Silva Pereira desenvolveu um método que preserva a estrutura e as propriedades antimicrobianas da barreira poliéster das plantas. O objectivo do projecto agora financiado é compreender a funcionalidade deste material para o desenvolvimento de aplicações clínicas.

 

Quando soube da notícia, Cristina Silva Pereira sentiu-se extremamente feliz. “Esta é uma excelente oportunidade de concretizar uma visão científica, através da consolidação da minha equipa”, afirma a investigadora e acrescenta “na verdade, é também um enorme desafio e quero estar à altura deste importante reconhecimento”.

 

Luís Moita, Investigador Principal do IGC, na área da inflamação, recebe este ERC Consolidator, no valor de 2M euros e pretende identificar e caracterizar novos mecanismos de protecção das células que possam conferir tolerância a doenças como a sepsis. Luis Moita explica que “A sepsis grave continua a ser uma condição inflamatória sistémica que não compreendemos bem, apresentando altas taxas de mortalidade e com opções terapêuticas limitadas”. “Com base em dados recentes que obtivemos em ratinhos, propomos que as estratégias que visam a protecção de órgãos-alvo tem um potencial extraordinário para o tratamento da sepsis e, possivelmente, para outras condições inflamatórias”, acrescenta Luís Moita.

 

Sobre a importância deste financiamento, Luís Moita afirma que: “O prémio ERC vai permitir-me executar o meu programa de investigação na área da sepsis sem barreiras”.

 

Bruno Silva-Santos, Investigador Principal do IMM, na área da imunologia, recebe este ERC Consolidator, no valor de 2M euros e pretende com este financiamento identificar mecanismos baseados em microRNAs “umas moléculas que controlam a expressão dos nossos genes, especificamente na produção de substâncias (citocinas) altamente inflamatórias”, explica Bruno Silva-Santos. Estas citocinas são essenciais para respostas eficazes a infecções (vírus, bactérias, fungos, parasitas) e a tumores, ao mesmo tempo que podem ter efeitos patogénicos no desenvolvimento de doenças inflamatórias crónicas e auto-imunes. Perceber como a produção destas citocinas é regulada pelos microRNAs poderá abrir novos horizontes em estratégias de vacinação, por um lado, e em tratamentos de doenças auto-imunes, por outro.

 

Depois de ter já conseguido uma bolsa Starting do ERC, na fase inicial da sua carreira independente, em 2010, Bruno Silva-Santos recebe agora este novo financiamento europeu e garante: “Este financiamento irá permitir a continuação do trabalho do grupo internacional e excepcional de cientistas que reuni no meu laboratório, ao mesmo tempo que nos permitirá iniciar um novo projecto ambicioso e com importantes implicações na Biomedicina”.

 

Henrique Veiga-Fernandes, Investigador Principal do IMM, na área da imunologia e infecção, recebe este ERC Consolidator, no valor de 2,3M euros que irá permitir estudar a regulação da inflamação no intestino: “O nosso trabalho revelará novos processos e alvos terapêuticos em doenças inflamatórias, infecciosas e tumorais no intestino e que têm grande relevância para a Saúde Pública”, explica Henrique Veiga-Fernandes.

 

Também em 2008, recebeu uma bolsa Starting do ERC, instalando o seu laboratório em Portugal e em 2013, foi premiado com um ERC Proof of Concept, projectos desenhados para detentores de financiamentos ERC, que constituem um financiamento adicional para estabelecer o potencial de inovação de ideias que surgem a partir de projectos já financiados pelo ERC. Henrique Veiga-Fernandes afirma que “Este ERC Consolidator é muito prestigiante e estamos muito orgulhosos por podermos continuar as nossas linhas de investigação”.

 

João T. Barata, Investigador Principal do IMM, na área de fisiologia e endocrinologia, recebe este ERC Consolidator, no valor de 2M euros para estudar em profundidade o impacto da molécula IL-7 – uma molécula que circula no sangue e presente na medula óssea, timo e outros órgãos – e do seu receptor – presente à superfície de vários tipos de células, em especial células do sistema imune. “Queremos entender os mecanismos através dos quais a IL-7 e o seu receptor podem transformar células normais e fazer com que se tornem malignas e o papel que têm no desenvolvimento de leucemia e outros cancros”, explica João Barata.

 

João Barata acrescenta que estas: ” Foram excelentes notícias e temos a certeza de que este ERC Consolidator irá permitir-nos avançar no conhecimento destas doenças e na descoberta de novas ferramentas para o seu tratamento”.

 

São agora nove, os investigadores a trabalhar em Portugal que receberam bolsas deste programa. O esquema de bolsas ERC Consolidator iniciou-se em 2013 e está desenhado para “dar apoio a investigadores que estão a consolidar a sua carreira científica independente”, em especial “grupos de investigação independentes com elevado nível de excelência”.

 

Fonte: comunicado de imprensa